A ascensão de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, tanto em 2017 quanto em um possível retorno em 2025, teve e continuará a ter impactos significativos nas dinâmicas políticas e econômicas globais. Para o Brasil, uma das economias mais influentes da América Latina e um dos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos, os efeitos das políticas implementadas por Trump afetaram diretamente a economia, as relações diplomáticas e a posição do país nos mercados internacionais. Este artigo busca analisar, em detalhes, os possíveis impactos da política econômica e externa de Trump na economia brasileira no contexto de sua presidência em 2025. Serão abordados os efeitos das políticas protecionistas, o papel das commodities, as relações comerciais, os desafios financeiros, a política ambiental e as estratégias diplomáticas que moldam o futuro do Brasil no cenário internacional.
Ao assumir a presidência dos Estados Unidos, Donald Trump implementou uma política econômica voltada para o nacionalismo e o protecionismo, princípios que orientaram suas ações ao longo de seu primeiro mandato e que, provavelmente, moldarão sua abordagem em 2025. O lema "America First" (América em primeiro lugar) foi central para sua administração e refletem a intenção de reverter acordos internacionais e limitar as importações, especialmente de mercados emergentes, com o objetivo de proteger a indústria americana e reduzir o déficit comercial dos EUA. A imposição de tarifas comerciais elevadas, a renegociação de acordos como o NAFTA (que foi substituído pelo USMCA) e a retirada de acordos internacionais como o Acordo de Paris sobre mudanças climáticas são exemplos claros dessa abordagem.
A política protecionista de Trump tem implicações diretas para o Brasil. O país, como grande exportador de commodities e produtos manufaturados, pode enfrentar barreiras tarifárias mais rígidas, além de uma possível pressão para revisar acordos comerciais existentes. Se Trump continuar a adotar políticas de tarifas, isso poderá afetar negativamente as exportações brasileiras, especialmente de produtos industriais e de consumo, ao mesmo tempo em que abrirá oportunidades para o Brasil aumentar sua participação no fornecimento de commodities, especialmente para mercados alternativos à China.
O Brasil, portanto, precisa se adaptar a um cenário global mais segmentado e competitivo, no qual a diversificação de mercados e o aumento da competitividade serão cruciais para minimizar os impactos da política protecionista dos EUA.
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Durante seu primeiro mandato, Trump procurou estreitar a relação com o Brasil, especialmente com a eleição de Jair Bolsonaro, cujo governo compartilhava muitas das visões conservadoras de Trump, especialmente no que diz respeito ao liberalismo econômico e à desregulamentação. No entanto, mesmo com a simpatia do presidente norte-americano, a relação comercial entre os dois países foi marcada por altos e baixos. O Brasil, por um lado, se beneficio de algumas ações como o aumento nas exportações de soja, carne bovina e petróleo para os EUA. Por outro lado, as críticas de Trump à política comercial brasileira e as tarifas impostas a produtos de outros países, como a China, afetaram o comércio bilateral de maneira negativa.
O principal desafio para o Brasil será a continuidade da guerra comercial entre os EUA e a China, que poderia favorecer ainda mais o Brasil no fornecimento de produtos como soja, carne e minério de ferro, devido às tarifas elevadas impostas pelos EUA sobre os produtos chineses. Contudo, a política de Trump também inclui uma visão crítica sobre as práticas comerciais de outros países, o que pode resultar em novas tensões com o Brasil, especialmente no que diz respeito a subsídios e práticas comerciais que favoreçam a produção interna brasileira.
Além disso, Trump provavelmente buscará, em seu segundo mandato, expandir a produção nacional e reduzir as importações, o que pode impactar negativamente a capacidade do Brasil de exportar produtos manufaturados para os EUA. O Brasil, portanto, precisa estar atento às possíveis mudanças nas tarifas e barreiras comerciais que possam ser impostas pelos EUA e buscar estratégias para garantir um acesso mais competitivo ao mercado norte- americano.
O Brasil é um dos maiores exportadores de commodities do mundo, e os Estados Unidos, embora não sejam seu maior parceiro comercial, continuam a ser um mercado importante para produtos como soja, carne, minério de ferro e petróleo. O setor de commodities, portanto, desempenha um papel central nas relações comerciais entre os dois países. Durante o governo de Trump, a guerra comercial com a China criou oportunidades para o Brasil, especialmente no setor agrícola.
Com a imposição de tarifas mais altas sobre produtos agrícolas da China, como a soja, o Brasil foi favorecido como fornecedor alternativo, principalmente para o mercado chinês. Essa situação, em 2025, pode continuar a beneficiar o Brasil, especialmente se a guerra comercial entre os EUA e a China persistir, o que pode fazer com que o Brasil ganhe participação nas exportações agrícolas para a Ásia e outros mercados emergentes.
Por outro lado, o mercado de energia, especialmente o petróleo, é outro setor estratégico no comércio Brasil-EUA. O Brasil, como grande produtor de petróleo, tem a oportunidade de expandir suas exportações para os EUA, que, sob a administração de Trump, priorizaram a independência energética e o aumento da produção doméstica. Se a produção brasileira continuar a se expandir, o Brasil pode aproveitar o espaço deixado pela China nas compras de energia para aumentar sua participação no mercado americano.
Embora as políticas de Trump sejam fortemente protecionistas, o Brasil procurou, durante o governo Bolsonaro, diversificar suas relações comerciais para reduzir a dependência do mercado norte-americano. O Acordo Mercosul- União Europeia, assinado em 2019, representa uma das maiores vitória comerciais do Brasil, com a promessa de acesso preferencial a um dos maiores blocos econômicos do mundo.
A assinatura desse acordo é particularmente relevante no contexto das políticas de Trump, já que ele reflete uma estratégia de diversificação comercial que pode mitigar os efeitos negativos do protecionismo americano. Em 2025, o Brasil provavelmente continuará a avançar na implementação do Acordo Mercosul-UE, o que permitirá ao país expandir suas exportações para a Europa, especialmente no setor de commodities agrícolas e produtos manufaturados.
Além disso, o Brasil tem buscado fortalecer relações comerciais com outros países fora da esfera de influência dos EUA, como China, Índia e países da África. Essas estratégias de diversificação são essenciais para garantir a segurança econômica do Brasil, independentemente das flutuações nas políticas comerciais dos EUA.
A era Trump também foi marcada por uma volatilidade crescente nos mercados financeiros globais. Sua política fiscal expansionista, que inclui cortes de impostos para empresas e indivíduos de alta renda, levou ao aumento do déficit fiscal dos Estados Unidos e à elevação da dívida pública. Isso, por sua vez, afetou a confiança dos investidores em relação à solidez da economia americana, com reflexos em economias emergentes como o Brasil.
Quando o Federal Reserve aumenta as taxas de juros, o capital tende a migrar para o mercado financeiro dos EUA, pressionando as moedas de economias emergentes, como o real. O Brasil, em particular, enfrentou desafios com a desvalorização do real, o que impactou tanto a inflação interna quanto a competitividade das exportações.
A desvalorização do real também teve um efeito paradoxal: ao tornar os produtos brasileiros mais baratos para os compradores internacionais, o Brasil se beneficiou no aumento das exportações. Contudo, a pressão inflacionária gerada pela alta dos preços de importações e o aumento dos custos internos representaram um desafio significativo para a classe média brasileira. As flutuações cambiais, portanto, continuarão sendo um fator crítico para a economia brasileira sob a presidência de Trump em 2025.
A postura de Trump em relação ao meio ambiente e à retirada do Acordo de Paris teve implicações diretas para o Brasil, especialmente em relação à preservação da Amazônia e ao aumento do desmatamento. A política ambiental de Trump, que priorizou a desregulamentação e a expansão de atividades industriais e energéticas, foi vista com ceticismo por muitos países que defendem políticas ambientais mais rígidas. O Brasil, que já enfrenta pressão internacional sobre o desmatamento na Amazônia, deve continuar sendo alvo de críticas durante o segundo mandato de Trump, especialmente considerando a continuidade das políticas de preservação ambiental da União Europeia e de outros blocos comerciais.
Embora o Brasil tenha buscado alinhar-se com a política de Trump em questões como desregulamentação e liberalismo econômico, a crescente pressão internacional sobre o desmatamento pode colocar o país em uma posição delicada, já que as economias que priorizam a sustentabilidade podem impor barreiras comerciais ao Brasil, prejudicando seus exportadores de commodities agrícolas e outros produtos.
O retorno de Donald Trump à presidência em 2025 traz uma série de desafios e oportunidades para o Brasil. As políticas de protecionismo, o aumento da volatilidade nos mercados financeiros e a continuidade da guerra comercial com a China são fatores que devem influenciar significativamente a economia brasileira. Por outro lado, as oportunidades no setor de commodities, especialmente com o aumento das exportações para mercados alternativos e a diversificação das relações comerciais, são elementos que podem ajudar o Brasil a se adaptar a um cenário global mais fragmentado.
A diversificação comercial será a chave para o Brasil manter sua competitividade diante da crescente polarização no comércio global. O país deve continuar avançando em sua estratégia de fortalecer laços com blocos econômicos como a União Europeia, a China e outras economias emergentes, ao mesmo tempo em que se adapta às mudanças nas políticas comerciais dos EUA.
O legado da era Trump, portanto, exigirá uma adaptação constante da política econômica e comercial do Brasil, que precisará equilibrar suas estratégias internas e externas para se manter competitivo em um mundo cada vez mais dinâmico e imprevisível. O Brasil terá de ser resiliente diante das tensões e das oportunidades criadas pelas políticas de Trump, com o objetivo de garantir sua posição no mercado global, independentemente das adversidades.
Coluna Isaac Clemente Coelho